domingo, agosto 06, 2006

Concurso sobre o Anjo de Fátima

Andava o País convencido de que o embuste de Fátima se resumia às cambalhotas solares e à metamorfose de azinheiras em campo de aterragem de virgens, com apelos pungentes à reza do terço e à conversão da Rússia e, afinal, anos antes, já ali tinha aterrado um anjo de pára-quedas.

Aquela zona é um aeroporto celeste, um interface para a fauna sagrada fazer escala.
Com um anjo e uma virgem, dois Papas e uma multidão de bispos, cónegos, cardeais e outros parasitas do divino, só falta o próprio Cristo para transformar a zona num Zoo celestial.

Se os negócios o justificarem, veremos Cristo dar um piparote na coroa de espinhos, pôr a cruz de lado e descer em voo picado sobre a capelinha das aparições. Se o negócio se complicar, até Jeová virá fazer a homilia sobre o dia do Juízo Final e deixará miniaturas de trombetas como recordação aos peregrinos.

Pelos vistos as escolas oficiais converteram-se em madraças onde meninos e meninas desenharam anjos numa altura que a gripe das aves, por razões sanitárias, aconselhava o abate.
Não sei como vêem os meninos o anjo de Fátima, quantos pares de asas lhe pregaram, qual o modelo que os padres lhes impingiram nem o combustível que lhe puseram no depósito.

A farsa, a burla, o proselitismo e a conivência dos professores de um Estado laico, são o paradigma de um país do terceiro mundo onde o catolicismo prepara o regresso à Idade Média.